terça-feira, 31 de agosto de 2010

Mar de Minas - (O Lago de Furnas) Brasil

Foto de Luciano
O Abraço do Mar
(Glória Salles)

Dia qualquer e essa saudade me trouxe...
Não quis pensar, pausei tudo aqui em mim
Antes que o tempo me engolisse lentamente
Sem traçar caminhos, decorei as idas e vim

Em frente o mar imenso, imolar essa imagem
Este azul profundo que me impregnou a alma
Corpo inteiro imerso nas águas dessa paisagem
A pele macia da mão do mar acariciou-me a alma

Na garganta da noite, todo meu sentir pausado
Vou, deixo atrás o mar, e nele meus fragmentos
Questionando-me a voz rouca dos pensamentos

Ainda pareço ouvir das ondas o som cantado
Se nas marcas da areia, deixar meu eu, me custa
Muito mais a idéia de dormir sem você assusta...

Foto de Luciano
O Lago de Furnas é a maior extensão de água do Estado de Minas Gerais e um dos maiores lagos artificiais do mundo, por isto é chamado Mar de Minas. Alimentado por nascentes e rios de águas cristalinas, cobre uma superfície de 1.457,48 Km², tendo modificado a paisagem dos trinta e quatro municípios atingidos pela sua inundação, com a criação de praias e desfiladeiros. Segundo a Associação dos Municípios do Lago de Furnas (ALAGO): "historicamente a região guarda a memória das tribos indígenas que ali habitaram, das trilhas bandeirantes em busca de ouro, das fazendas seculares e dos quilombos rebeldes. Muito dessa história submergiu em fevereiro de 1963, quando as águas do lago subiram seu nível por sobre casas, plantações e até mesmo cidades, transformando definitivamente o lugar. Seus habitantes levaram algum tempo para reconhecer a nova paisagem e as novas possibilidades oferecidas pelo grande lago que se formara. Aos poucos, porém, em seus remansos, agradáveis pousadas, férteis pesqueiros e elegantes embarcações foram surgindo e delineando o futuro turístico do Lago de Furnas".

segunda-feira, 23 de agosto de 2010

Brasília - Brasil



Brasília é a capital da República Federativa do Brasil e sua quarta maior cidade. Na última contagem realizada pelo IBGE em 2009, sua população foi estimada em 2 606 885 de habitantes. Brasília também possui o segundo maior PIB per capita do Brasil (40 696,00 reais) entre as capitais, superada apenas por Vitória (60 592,00 reais). Junto com Anápolis (139 km) e Goiânia (209 km), faz do eixo Goiânia-Anápolis-Brasília, a região mais desenvolvida do Centro-Oeste brasileiro.
Inaugurada em 21 de abril de 1960, pelo então presidente Juscelino Kubitschek de Oliveira, Brasília é a terceira capital do Brasil, após Salvador e Rio de Janeiro. A transferência dos principais órgãos da administração federal para a nova capital foi progressiva, com a mudança das sedes dos poderes Executivo, Legislativo e Judiciário federais.
O plano urbanístico da capital, conhecido como "Plano Piloto", foi elaborado pelo urbanista Lúcio Costa, que, aproveitando o relevo da região, o adequou ao projeto do lago Paranoá, concebido em 1893 pela Missão Cruls.O lago armazena 600 milhões de metros cúbicos de água. Muitas das construções da Capital Federal foram projetadas pelo renomado arquiteto Oscar Niemeyer.


SONETO DA FIDELIDADE
(Vinícius de Morais)

De tudo, meu amor serei atento
Antes, e com tal zelo, e sempre, e tanto
Que mesmo em face do maior encanto
Dele se encante mais meu pensamento.
Quero vivê-lo em cada vão momento
E em seu louvor hei de espalhar meu canto
E rir meu riso e derramar meu pranto
Ao seu pesar ou seu contentamento.
E assim, quando mais tarde me procure
Quem sabe a morte, angústia de quem vive
Quem sabe a solidão, fim de quem ama
Eu possa me dizer do amor ( que tive ) :
Que não seja imortal, posto que é chama
Mas que seja infinito enquanto dure.
 

quarta-feira, 18 de agosto de 2010

Ouro Preto - Minas Gerais - Brasil

Foto de Luciano

Ouro Preto é um município brasileiro do estado de Minas Gerais, famoso por sua magnífica arquitetura colonial. Foi a primeira cidade brasileira a ser declarada pela UNESCO, Patrimônio Histórico e Cultural da Humanidade, no ano de 1980.
No município há 13 distritos: Amarantina, Antônio Pereira, Cachoeira do Campo, Engenheiro Correia, Glaura, Lavras Novas, Miguel Burnier, Santa Rita, Santo Antônio do Leite, Santo Antônio do Salto, São Bartolomeu e Rodrigo Silva, além da sede.
O ouro mineiro começou a chegar a Portugal ainda no final do século XVII. Em 1697 o embaixador francês Rouillé menciona chegada de ouro "peruano", cita 115,2 kg. Godinho, sem citar a fonte, menciona para 1699 725 quilos e em 1701 a chegada de 1.785 quilos.
A origem de Vila Rica está no arraial do Padre Faria, fundado pelo bandeirante Antônio Dias de Oliveira, pelo padre João de Faria Fialho e pelo coronel Tomás Lopes de Camargo e um irmão deste, por volta de 1698.
A vila foi fundada em 1711 pela junção desses vários arraiais, tornando-se sede de concelho, com a designação de Vila Rica. Em 1720 foi escolhida para capital da nova capitania de Minas Gerais. Em 1823, após a Independência do Brasil, Vila Rica recebeu o título de Imperial Cidade, conferido por D. Pedro I do Brasil, tornando-se oficialmente capital da então província das Minas Gerais e passando a ser designada como Imperial Cidade de Ouro Preto.

 Foto de Luciano
Amar(Carlos Drummond de Andrade)

Que pode uma criatura senão,
entre criaturas, amar?
amar e esquecer,
amar e malamar,
amar, desamar, amar?
sempre, e até de olhos vidrados amar?

Que pode, pergunto, o ser amoroso,
sozinho, em rotação universal, senão
rodar também, e amar?
amar o que o mar traz à praia,
o que ele sepulta, e o que, na brisa marinha,
é sal, ou precisão de amor, ou simples ânsia?

Amar solenemente as palmas do deserto,
o que é entrega ou adoração expectante,
e amar o inóspito, o cru,
um vaso sem flor, um chão de ferro,
e o peito inerte, e a rua vista em sonho, e uma ave
de rapina.Este o nosso destino: amor sem conta,
distribuído pelas coisas pérfidas ou nulas,
doação ilimitada a uma completa ingratidão,
e na concha vazia do amor a procura medrosa,
paciente, de mais e mais amor.

Amar a nossa falta mesma de amor,
e na secura nossa amar a água implícita,
e o beijo tácito, e a sede infinita.

 Foto de Luciano

segunda-feira, 16 de agosto de 2010

Sagrada Família - Barcelona - España

Foto de Ceiça

O Templo Expiatório da Sagrada Família, também conhecido simplesmente como Sagrada Família, é um grande templo católico da cidade catalã de Barcelona (Espanha), desenhado pelo arquiteto catalão Antoni Gaudí, e considerado por muitos críticos como a sua obra-prima e expoente da arquitetura modernista catalã. Financiado unicamente por contribuições privadas, o projeto foi iniciado em 1882 e assumido por Gaudí em 1883, quando tinha 31 anos de idade, dedicando-lhe os seus últimos 40 anos de vida, os últimos quinze de forma exclusiva. A construção foi suspensa em 1936 devido à Guerra Civil Espanhola e não se estima a conclusão para antes de 2026, centenário da morte de Gaudí. No momento presente o mês de setembro de 2010 é apontado para a conclusão do interior e abertura ao culto e visitas, enquanto para a sua consagração está prevista a data de 7 de novembro de 2010.
A construção começou em estilo neogótico, mas o projeto foi reformulado completamente por Gaudí ao assumi-lo. O templo foi projetado para ter três grandes fachadas: a Fachada da Natividade, quase terminada com Gaudí ainda em vida, a Fachada da Paixão, iniciada em 1952, e a Fachada da Glória, ainda por completar. Segundo o seu proceder habitual, a partir de esboços gerais do edifício Gaudí improvisou a construção à medida que esta avançava. O templo, quando estiver terminado, disporá de 18 torres: quatro em cada uma das três entradas-portais, a jeito de cúpulas; irá ter um sistema de seis torres, com a torre do zimbório central dedicada a Jesus Cristo, de 170 metros de altura, outras quatro ao redor desta, dedicadas aos evangelistas, e um segundo zimbório dedicado à Virgem. O interior estará formado por inovadoras colunas arborescentes inclinadas e abóbadas baseadas em hiperboloides e paraboloides buscando a forma ótima da catenária. Estima-se que poderá levar no seu coro 1500 cantores, 700 crianças e cinco órgãos. Em 1926, ano em que faleceu Gaudí, apenas estava construída uma torre. Do projeto do edifício só ficaram planos e um modelo em gesso que resultou muito danificado durante a Guerra Civil Espanhola. Desde então prosseguiram as obras: atualmente (2010) estão terminados os portais da Natividade e da Paixão, e foi iniciado o da Glória, estando em construção as abóbadas interiores.

 Foto de Ceiça
AR DE NOTURNO
(Frederico Garcia Lorca)

Tenho muito medo
das folhas mortas,
medo dos prados
cheios de orvalho.
eu vou dormir;
se não me despertas,
deixarei a teu lado meu coração frio.

O que é isso que soa
bem longe?
Amor. O vento nas vidraças,
amor meu!

Pus em ti colares
com gemas de aurora.
Por que me abandonas
neste caminho?
Se vais muito longe,
meu pássaro chora
e a verde vinha
não dará seu vinho.

O que é isso que soa
bem longe ?
Amor. O vento nas vidraças,
amor meu !

Nunca saberás,
esfinge de neve,
o muito que eu
haveria de te querer
essas madrugadas
quando chove
e no ramo seco
se desfaz o ninho.

O que é isso que soa
bem longe?
Amor. O vento nas vidraças,
amor meu!

sábado, 14 de agosto de 2010

Barcelona - España

Foto de Ceiça

Barcelona é a maior cidade e capital da comunidade autônoma de Catalunha, no nordeste da Espanha; é também a capital da comarca do Barcelonès e da província de Barcelona. É também a segunda maior cidade da Espanha após Madrid e possui uma população de cerca de 1.621.537 habitantes entre de seus limites administrativos uma área de 101,4 km2. A área urbana de Barcelona se estende além dos limites administrativos da cidade com uma população de mais de 4,2 milhões de habitantes[1][2] em uma área de 803 km2[1], é a sexta área urbana mais populosa na União Europeia após Paris, Londres, Vale do Ruhr, Madrid e Milão. Cerca de 5 milhões de pessoas vivem na área metropolitana de Barcelona, é a maior metrópole da Europa dentre as localizadas na costa do Mediterrâneo.
Os primeiros vestígios de povoamento em Barcelona remontam ao final do período Neolítico (2000 a 1500 a.C.). Do século VII ao VI a.C. não está documentada a existência de povoamento de nenhuma tribo ibérica. Aparentemente, por essa mesma época teria existido uma colônia grega (Kallipolis) na região, apesar de os historiadores discordarem sobre a sua localização exata. Os cartagineses teriam ocupado a região durante a Segunda Guerra Púnica e depois os romanos se instalariam no local.
Em sentido estrito, Barcelona teria sido fundada pelos romanos no final do século I a.C., sobre o mesmo assentamento ibérico anterior onde já se haviam instalado anteriormente desde o ano 218 a.C., e teria sido convertida numa fortificação militar, chamada de Iulia Augusta Paterna Faventia Barcino, que estava situada sobre o então chamado Mons Taber, uma pequena elevação onde hoje está situada a catedral da cidade e a praça de Sant Jaume. No século II as suas muralhas foram construídas por ordem do Imperador Cláudio e já no início do século III a população de Barcino estava estimada entre 4.000 e 8.000 habitantes.
Depois de um pós-guerra duro para Barcelona, teve início uma fase de desenvolvimento sob o mandato do prefeito Josep María de Porcioles i Colomer. Toda a região próxima à cidade que ainda mantinha alguma tradição agrícola e rural aos poucos se vai urbanizando com grandes bairros cheios de imigrantes procedentes de outras partes da Península Ibérica. Restaurada a democracia após a morte do ditador Franco, um novo desenvolvimento cultural e urbanístico acontece, com uma crescente participação da população civil, dotando a cidade de grandes infra-estruturas dignas de uma metrópole moderna e cosmopolita atrativa para o turismo.

 Foto de Ceiça

EL POETA PIDE A SU AMOR QUE LE ESCRIBA
(Federico García Lorca)

Amor de mis entrañas, viva muerte,
en vano espero tu palabra escrita
y pienso, con la flor que se marchita,
que si vivo sin mí quiero perderte.

El aire es inmortal, la piedra inerte
ni conoce la sombra ni la evita.
Corazón interior no necesita
la miel helada que la luna vierte.

Pero yo te sufrí, rasgué mis venas,
tigre y paloma, sobre tu cintura
en duelo de mordiscos y azucenas.

Llena, pues, de palabras mi locura
o déjame vivir en mi serena noche
del alma para siempre oscura.

quinta-feira, 12 de agosto de 2010

Maison Angelina - Paris


Foto de Ceiça

Na Rue du Rivoli 226, uma das mais famosas de Paris e perto do Museu do Louvre, está a Maison Angelina, fundada em 1903, comandada pelo chef Sébastien Bauer, especialista em patisserie e viennoiserie. É uma Casa de Chá, das mais tradicionais da cidade, que serve, além de chás, cafés, saladas, quiches e chocolates. Há sempre uma pequena fila para conseguir uma mesa, mas a espera vale a pena. O salão é grande, com uma arquitetura "neo-rococó", onde facilmente você se sente em um quadro do início do século passado.

Os amantes do chocolate não podem deixar de provar o l'Africain, famoso chocolate quente da casa servido com chantilly a parte. Sei que não devo ficar classificando nada como o "melhor ou pior", pois cada paladar é único, sendo subjetivo, mas irei concordar com os meus amigos parisienses: "em matéria de chocolat chaud, vai ser difícil encontrar outro mais saboroso na cidade". 
(Por Robson Oliveira)


 Fotos de Ceiça e Wilzy

É o êxtase langoroso
(Paul Verlaine)

É o êxtase langoroso
É a fadiga amorosa
São todos os arrepios do bosque
Entre os abraços das brisas.
E para o lado das inquietas ramagens
Há um coro de pequenas vozes.

Oh fresco e frágil murmúrio
Tudo chilreia e assusta
Assemelha-se ao doce grito
a aspirar da agitação da erva...
Dirias, sob um redemoinho d’água
Um surdo rolar de seixos.

A alma a lamentar-se
Nessa queixa dormente
É a nossa, não é?
É a minha, dize, é a tua,
d’onde se exala a humilde antífona,
Tão baixinho, nesta noite morna?

terça-feira, 10 de agosto de 2010

Musée du Louvre - França

Foto de Ceiça

O Museu do Louvre (Musée du Louvre), instalado no Palácio do Louvre, em Paris, é um dos maiores e mais famosos museus do mundo. Localiza-se no centro de Paris, entre o rio Sena e a Rue de Rivoli. O seu pátio central, ocupado agora pela pirâmide de vidro, encontra-se na linha central dos Champs-Élysées, e dá forma assim ao núcleo onde começa o Axe historique (Eixo histórico).
É onde se encontra a Mona Lisa, a Vitória de Samotrácia, a Vénus de Milo, enormes coleções de artefatos do Egito antigo, da civilização greco-romana, artes decorativas e aplicadas, e numerosas obras-primas dos grandes artistas da Europa como Ticiano, Rembrandt, Michelangelo, Goya e Rubens, numa das maiores mostras do mundo da arte e cultura humanas. O museu abrange, portanto, oito mil anos da cultura e da civilização tanto do Oriente quanto do Ocidente.
O Louvre é gerido pelo estado francês através da Réunion des Musées Nationaux.
É sem dúvida o museu mais visitado do mundo em 2007 teve 8,3 milhões de visitantes, em 2009 com 8,5 milhões.
O primeiro real "Castelo do Louvre" neste local foi fundado por Filipe II em 1190, como uma fortaleza para defender Paris a oeste contra os ataques dos Vikings. No século seguinte, Carlos V transformou-o num palácio, mas Francisco I e Henrique II rasgaram-no para baixo para construir um palácio real; as fundações da torre original da fortaleza estão sob a Salle des Cariatides (Sala das Cariátides) agora. Mais tarde, reis como Luís XIII e Luís XIV também dariam contribuições notáveis para a feição do atual Palácio do Louvre, com a ampliação do Cour Carré e a criação da colunata de Perrault.


Aléxis Félix Arvers ( 1806-1850)
"Soneto de Arvers"
                      
Tradução de J G de Araujo Jorge                       

Tenho um segredo na alma, e um mistério na vida:
um repentino amor que me empolga e devora;
louca paixão que trago em minha alma escondida
e aquela que a inspirou, entretanto, a ignora...

Ai, de mim! Sigo só, mesmo a seu lado, embora
leve no coração sua imagem querida
até que venha a morte, e amanhã, como agora,
nada possa esperar dessa paixão proibida...

E ela que a alma possui só de ternuras cheia
seguirá seu caminho, indiferente, e alheia
ao sussurro de amor que em vão a seguirá...

Presa a um nobre dever, a um tempo fiel e bela,
dirá depois que ler meus versos cheios dela:
- "Que mulher será essa?..." E não compreenderá...

Tradução 02  de J G de Araujo Jorge, in
"Os Mais Belos Sonetos Que O Amor Inspirou"
Poesia Universal - Européia e Americana  -
Vol. III  - 1a edição 1966

quarta-feira, 4 de agosto de 2010

Lisboa - Pessoa - Florbela

Foto de Luciano
A Outra
Amamos Sempre no Que Temos
(Fernando Pessoa)

AMAMOS sempre no que temos 
O que não temos quando amamos. 
O barco pára, largo os remos 
E, um a outro, as mãos nos damos. 
A quem dou as mãos? 
À Outra.

Teus beijos são de mel de boca, 
São os que sempre pensei dar,  
E agora e minha boca toca 
A boca que eu sonhei beijar. 
De quem é a boca? 
Da Outra.

Os remos já caíram na água, 
O barco faz o que a água quer. 
Meus braços vingam minha mágoa 
No abraço que enfim podem ter. 
Quem abraço? 
A Outra. 

Bem sei, és bela, és quem desejei... 
Não deixe a vida que eu deseje 
Mais que o que pode ser teu beijo 
E poder ser eu que te beije. 
Beijo, e em quem penso? 
Na Outra.

Os remos vão perdidos já, 
O barco vai não sei para onde. 
Que fresco o teu sorriso está, 
Ah, meu amor, e o que ele esconde! 
Que é do sorriso 
Da Outra? 

Ah, talvez, mortos ambos nós, 
Num outro rio sem lugar 
Em outro barco outra vez sós 
Possamos nos recomeçar 
Que talvez sejas 
A Outra.

Mas não, nem onde essa paisagem 
É sob eterna luz eterna 
Te acharei mais que alguém na viagem 
Que amei com ansiedade terna 
Por ser parecida  
Com a Outra. 

Ah, por ora, idos remo e rumo,  
Dá-me as mãos, a boca, o ter ser. 
Façamos desta hora um resumo 
Do que não poderemos ter. 
Nesta hora, a  única, 
Sê a Outra.
 
Foto de Luciano
Desejos vãos
(Florbela Espanca)
.
Eu queria ser o Mar de altivo porte
Que ri e canta, a vastidão imensa!
Eu queria ser a Pedra que não pensa,
A pedra do caminho, rude e forte!

Eu queria ser o sol, a luz intensa

O bem do que é humilde e não tem sorte!
Eu queria ser a árvore tosca e densa
Que ri do mundo vão é ate da morte!

Mas o mar também chora de tristeza...

As árvores também, como quem reza,
Abrem, aos céus, os braços, como um crente!

E o sol altivo e forte, ao fim de um dia,

Tem lágrimas de sangue na agonia!
E as pedras... essas... pisá-as toda a gente!...